29 de maio de 2011

Setor educacional

O conceito de ações afirmativas também engloba os setores educacionais, visando corrigir certas distorções que afetam o povo negro. O educador brasileiro Mário Sérgio Cortella defende a ótica de que “as cotas não resolvem a questão social dos afro-descendentes no país, mas abrem espaços para fazê-los aparecer. Embora o sistema não seja suficiente, é uma medida necessária porque enseja a formação de grupos afro0descendentes na sociedade.”

Isso indica que a situação social e educacional no Brasil não muda de um dia para o outro. Para o educador, o Brasil tem escondido em sua tela social um racismo que só não aparece porque o negro não disputa de fato o espaço do branco, sendo que em nosso país a convivência entre negros e brancos existe, mas há a suposição de submissão dos negros, o que o leva a não disputar espaço. Para Cortella, nosso racismo só vem à tona em momentos em que a negritude ameaça o espaço do indo-europeu. Nos Estados Unidos, as cotas serviram para obrigar a convivência entre brancos e negros. Somos apenas a quinta geração depois da abolição da escravatura. Os bisavôs de muitos de nós vivenciaram a escravatura, o que significa que existe certo costume de imaginar os negros em funções subalternas. Se é subalterno, não disputa espaço. A eficácia das cotas aparece aí. A pergunta que se faz é se, sem essas políticas, haveria nos EUA um secretário de Estado como Colin Powell? Nós temos ministras negras, mas isso se deu pela indicação do atual governo. Pertenci a um governo dirigido por uma mulher da Paraíba (Luiza Erundina), que, além de nordestina, era de estatura baixa e solteira. Ela dizia que só faltava ser negra, porque do restante já a ‘acusavam’. Quando queriam ofendê-la, falavam de sua origem.

O então geógrafo e ex-professor emérito da USP, Milton Santos, no artigo “Ética enviesada da sociedade branca desvia o enfrentamento do problema negro”, já fazia o seu alerta social. Para Santos, aqui, o fato de que o trabalho do negro tenha sido, desde o início da história econômica, essencial à manutenção do bem-estar das classes dominantes, deu-lhe um papel central na gestão e perpetuação de uma ética conservadora arraigada e mantida por estereótipos que ultrapassam os limites do simbólico e têm incidência sobre os demais aspectos das relações sociais. Por isso, talvez ironicamente, a ascensão, por menor que seja, dos negros na escala social, sempre deu lugar a expressões veladas ou ostensivas de ressentimentos – paradoxalmente contra as vítimas. Ao mesmo tempo, a opinião pública foi, por cinco séculos, treinada para desdenhar e não tolerar manifestações de inconformidade, vistas como um injustificável complexo de inferioridade, já que o Brasil, segundo a doutrina oficial, jamais acolhera alguma forma de discriminação ou preconceito.

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