Por ocasião dos 123 anos da assinatura da Lei Áurea no Brasil pela princesa Izabel, que em 13 de maio de 1888 decretou o fim da escravidão no Brasil e, dos 110 anos de criação da Sociedade Beneficente Treze de Maio, a cidade de Piracicaba não pode se omitir na avaliação do processo que envolve o negro brasileiro. Recentes dados do IBGE já apontam que mais de 50 por cento da população brasileira é negra. Neste contexto, o destaque se volta às chamadas políticas de ações afirmativas, de cotas raciais para negros, onde a cidade de Piracicaba se destaca no cenário nacional em legislações que procuram assegurar avanços sociais.
O conceito de ações afirmativas no Brasil, na contemporaneidade, ganha reforço no final do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). A medida governamental coloca em prática preceitos de convenções internacionais e tratados, a exemplo da Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, ocorrida em setembro de 2001, em Durban, África do Sul, reunindo os principais países que passaram por processos de escravização. O encontro apontou para a perversidade do sistema, um crime contra a humanidade.
Na Conferência, a maioria dos países ratificou acordos na implantação das chamadas políticas afirmativas como forma de contemplar parte do legado de trabalhos forçados com o qual diversas economias se fortaleceram, especialmente as oligarquias brasileiras que hoje detêm o complexo industrial. Logo após a Conferência, o governo brasileiro implantou um programa de cotas no âmbito de alguns ministérios (Desenvolvimento Agrícola e Reforma Agrária, Justiça e Relações Exteriores), a título de reparações sociais.
Piracicaba é uma das cidades pioneiras no cenário nacional na adoção de cotas no serviço público, por meio da lei 5.202/02, que reserva 20% das vagas aos afrodescendentes e garante 40% de participação em peças publicitárias oficiais, além de outras legislações e programas direcionados a segmentos marginalizados da sociedade, a exemplo dos negros, a título de aplicação das chamadas ações afirmativas. A discussão sobre ações afirmativas não encontra respaldo da grande mídia, brasileira e internacional, que tem se pautado em questões superficiais, discutindo o tema em datas esporádicas.
Piracicaba ganhou destaque na realização de eventos prévios e pós-Conferência, com a presença dos principais representantes brasileiros, como a relatora da Carta de Durban, Edna Roland, e o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Ricardo Henriques, que apresentou dados estatísticos sobre a desigualdade da comunidade negra nos mais de 500 anos de história oficial brasileira. Isso reforça a noção de caráter discriminativo das cotas raciais, como forma de o Estado colocar o “dedo na ferida”, na tentativa de, pelo menos em 50 anos, tentar amenizar os índices sociais da desigualdade brasileira. Dados do IBGE e do IPEA apontam que 70% dos pobres brasileiros são negros.
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